Falcão fala sobre os 30 anos do Parque do Sabiá
Leia abaixo a entrevista que o ex-jogador da Seleção Brasileira Paulo Roberto Falcão concedeu ao Jornal Correio de Uberlândia, sobre os 30 anos do Estádio Parque do Sabiá.
Ao completar 30 anos de sua inauguração hoje, o Estádio Municipal João Havelange, o Parque do Sabiá, guarda em sua história, que começou no dia 27 de maio de 1982, importantes momentos do futebol, como jogos da seleção brasileira, Campeonato Sul-Americano de Futebol Feminino, Taça Libertadores da América, Campeonato Brasileiro e do Uberlândia Esporte.
No último jogo amistoso, antes do embarque para a Espanha, país sede da Copa do Mundo de 1982, o time comandado por Telê Santana goleou a fraca equipe da Irlanda do Sul por 7 a 0. O primeiro gol marcado no Parque do Sabiá foi do meia Falcão, aos 32 minutos do primeiro tempo. Depois de bola alçada na área pelo lateral Júnior, a zaga irlandesa rebateu e Falcão, na entrada da área, colocou no ângulo superior esquerdo do goleiro.
“Me lembro muito bem do gol e da forma como a torcida de Uberlândia recebeu a seleção. Houve o rebote da defesa e eu peguei um bate-pronto no ângulo. Sem dúvida nenhuma, aquele foi um momento especial para mim e, com certeza, para todas as pessoas, que estavam muito entusiasmadas no estádio”, disse Paulo Roberto Falcão, em entrevista exclusiva ao CORREIO de Uberlândia.
Para Falcão, a alegria da torcida uberlandense contagiou o time brasileiro, que estava se despedindo do país, já que embarcou dias depois para a Espanha. “A seleção era muito badalada, por isso o assédio dos torcedores era muito grande. Em Uberlândia, isso não foi diferente. O apoio recebido nos dois dias em que ficamos na cidade foi muito importante para todos nós. Foram momentos de grande alegria, que estão registrados em minha memória”, disse o ex-craque da seleção, atualmente no comando técnico do Bahia.
Um time mágico
O time de Falcão, Zico, Sócrates e cia., comandado por Telê Santana, deixou Uberlândia levando para a Espanha a certeza de que todo o grupo queria e confiava na conquista do título. “Por onde a seleção passou, durante toda preparação para a Copa de 82, o carinho do público era muito grande. No caso de Uberlândia estabeleceu-se uma relação de intimidade entre a equipe e a cidade. Parecia que nós morávamos em Uberlândia. Viajamos para a Espanha com a convicção de que poderíamos conquistar o tetra”, disse Falcão.
Com um futebol envolvente, que encantou o mundo a cada jogo, era grande a certeza da torcida brasileira de que a equipe traria o título para o Brasil, mas isso não aconteceu naquele ano – o tetra veio somente em 1994, nos Estados Unidos.
“Queríamos muito ganhar e sabíamos que isso poderia acontecer, mas não havia clima de já ganhou entre nós. Infelizmente, não conseguimos o título, mas aquela seleção continua na memória de muita gente no Brasil e em outros países”, disse.
Seleção saiu do sabiá para ir à copa
Quanto à eliminação do Brasil na derrota por 3 a 2 para a Itália, Falcão isenta o ex-volante Toninho Cerezo de qualquer culpa. “Falam apenas da bola que o Cerezo atravessou na intermediária e que acabou nos pés do Paulo Rossi, mas ninguém fala que o meu gol marcado naquele jogo foi passe do Cerezo. O grupo administrou bem aquela situação, mas é claro que ficaram uma frustração e uma tristeza muito grande”, disse Falcão.
Ainda sobre aquele 27 de maio de 1982, Falcão lembra que o ex-presidente da República João Batista Figueiredo descerrou a placa de inauguração do estádio e ainda visitou os jogadores da seleção no vestiário do Parque do Sabiá. “Como era a nossa despedida do país, o presidente foi até os vestiários, conversou conosco e nos desejou boa sorte”, disse o ex-meia do Brasil.
Como jogador, a única atuação de Falcão no Parque do Sabiá foi no dia 27 de maio, mas ele retornou outras vezes à cidade e ao estádio. “Na minha passagem como técnico da seleção, em 1991, fizemos um jogo contra o Chile. Tive a oportunidade de ver a placa no hall de entrada do estádio, lembrando aquele gol. A minha relação com Uberlândia é grande, até porque foi o único gol que marquei na inauguração de um estádio”, disse Falcão.
Muitos membros da imprensa uberlandense que estavam na inauguração do Estádio Parque do Sabiá, no dia 27 de maio de 1982, ainda trabalham na cidade. Cada um deles guarda uma lembrança especial sobre os acontecimentos que circundavam a partida da seleção brasileira contra a Irlanda, às vésperas da Copa do Mundo de 1982 na Espanha. O apresentador Guy Boaventura, da TV Bandeirantes, era narrador da Rádio Cultura e conta que uma das grandes discussões na época era em relação ao tamanho do estádio, construído com capacidade para 75 mil pessoas, que era considerado grande para o tamanho da cidade, na época, com população de 240.967, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
“A dúvida era se o Sabiá se tornaria um “elefante branco” depois que a seleção brasileira passasse por aqui. Alguns anos depois, ainda continuou bastante movimentado com o título do Uberlândia na Série B (Taça de Prata), mas sua luz foi se apagando aos poucos. Hoje, sim, podemos considerar que é um estádio de pujança compatível com a cidade. Espero que, em breve, o Verdão possa voltar a brilhar nessa praça maravilhosa”, disse Guy.
Ronei Bentes, comentarista da TV Bandeirantes, era repórter da Rádio Visão. “Na época, eu tinha apenas 22 anos. O Parque do Sabiá era a bola da vez, a notícia mais comentada. Criava-se uma expectativa muito grande em relação ao futuro do futebol profissional na cidade, especialmente com o Uberlândia Esporte”, afirmou o jornalista Ronei Bentes.
Maurinho fez história pelo verdão
Somente anos depois de ter marcado o primeiro gol do Uberlândia Esporte Clube (UEC) no Estádio Parque do Sabiá, isso no dia 6 de junho de 1982, é que Mauro Eli da Silva, o Maurinho, conseguiu dimensionar a importância de seu feito. Após o amistoso da seleção brasileira, que goleou a Irlanda por 7 a 0 na primeira partida no gigante do parque, foi a vez de o Uberlândia fazer seu jogo de estreia na nova praça do futebol uberlandense. O confronto foi diante do Santos e com o time que foi base para a conquista da Taça de Prata de 1984 (Brasileiro – Série B), o Verdão bateu o Peixe por 4 a 0. Aos oito minutos do primeiro tempo, Maurinho abriu o placar para o UEC.
“No dia encarei como mais um gol pelo Uberlândia. E fazer gol com a camisa do Uberlândia sempre foi algo extraordinário para mim. Só anos depois é que fui pensar direito na importância daquele gol. Poxa, fiz o primeiro gol do Verdão no Parque do Sabiá”, disse Maurinho. E parece que o primeiro gol no estádio deu sorte ao meia uberlandense. Anos depois, em 1984, ele foi o vice-artilheiro do Verdão no título de campeão brasileiro da Taça de Prata (hoje Série B), marcando 13 gols.
“Dá impressão de ser uma novela com os capítulos marcados pelo destino, porque parece que aquele gol abriu as portas de uma vez por todas para mim no futebol. Em minha opinião, o Parque do Sabiá é a segunda metade do Uberlândia Esporte e, graças a Deus, consegui escrever uma pequena parte dessa história. Sinto-me muito orgulhoso por isso”, afirmou.
Atualmente, Maurinho trabalha como administrador do poliesportivo do bairro Tocantins. Aos 52 anos, continua disputando campeonatos de veteranos, inclusive joga no time máster do Uberlândia Futebol Clube, que faz jogos amistosos contra grandes equipes brasileiras.
Por: Luis Figueira Jornalista , Eder Soares Repórter