Centro de Fiação e Tecelagem mantém viva a arte milenar do tear

 

Alguns dizem 12 mil anos e outros falam em quatro mil. Independente disso, sabe-se que a tecelagem é uma arte milenar e uma das mais antigas que estão presentes até os dias de hoje. Em Uberlândia o ofício de tecer é mais do que um passatempo para quem pratica. No Centro de Fiação e Tecelagem, administrado pela Prefeitura de Uberlândia e mantido pela Associação de Apoio Comunitário (Assacom), tecer é uma profissão e está ligada não só ao trançar dos fios, mas sim a todo o processo de produção… E, claro, também à dedicação e à paciência.

 

São 25 profissionais na tecelagem, a grande maioria composta por mulheres na terceira idade, que vêem no trabalho uma forma de dignidade e de aproveitamento da vida. Após os 60 anos muitas pensam em parar, mas elas desejam seguir produzindo, da maneira que mais lhe dão prazer. Ao apertar o pedal, a engrenagem primitiva dos teares, dão formas e cores aos fios de algodão. Mas o trabalho não começa neste momento. Toda etapa é participativa.

 

Antes de chegar ao tear, o algodão passa por métodos manuais de preparação. Um dos primeiros é batê-lo para abrir a pluma. Em seguida, é necessário cardar o algodão para deixá-lo uniforme e fazer o fio, com a espessura desejada, na roda. Depois de urdido o fio é levado para o tear e em seguida é feito o acabamento, ou seja, a peça, última etapa de preparação antes de chegar à loja que fica no próprio Centro de Fiação e Tecelagem.

 

Quem define a forma da peça a ser criada é a tecedeira. Ao dispor os fios no tear, ela pode produzir tapetes, forros americanos, guardanapos, porta-copos, revestimentos para estofados, mantas e outros artigos. Tudo depende da imaginação de quem comanda o tear, todo feito por madeiras encaixadas, rústica e sem parafusos, mas firmes e eficientes para o trabalho de cinco horas diárias das tecedeiras do Centro.

 

Aos 14 anos, Geralda Ferreira da Silva aprendeu o ofício. Hoje, aos 86, sendo mais de 20 passados no Centro de Fiação e Tecelagem, ela só pensa em continuar sua produção. Aposentar os fios nem passa pela cabeça. “Gosto de tudo aqui. Para não parar de trabalhar, resolvi alugar uma van que me carrega de casa para o trabalho”, contou a tecedeira que finaliza uma peça de mais de 10 metros e com palhas de buritis. Só neste trabalho, são mais de 15 dias de dedicação.

 

Aparecida Reis, de 65 anos, considera dona Geralda uma mestra. Aprendeu tudo com ela ao chegar ao Centro no início dos anos 90 e hoje tira das habilidades do tear a renda para casa, assim como as outras da equipe. “Quando comecei aqui não sabia nada sobre trançar os fios. Ela me ensinou tudo; é uma referência para toda a equipe e uma grande amiga nossa. Tecer é uma tarefa que faço com alegria. Ver a peça pronta, que começou com fios milimétricos é motivo de muito orgulho. Fazemos com amor e, assim, o trabalho fica mais gostoso, mais interessante”, comentou.

 

Mensalmente, são produzidos cinco quilos de algodão e fios industriais são adquiridos para complementar a tecelagem e dar conta da demanda. Além da criação de peças internas vendidas na loja do Centro de Fiação e Tecelagem, o espaço também trabalha com encomendas. Os recursos das vendas são revertidos para as próprias tecedeiras, para a compra de materiais e manutenção. As funcionárias são remuneradas através de subvenção, trabalham das 7h30 às 12h30 e contam com todos os direitos trabalhistas, como 13º salário, férias e fundo de garantia.

 

”As peças são excelentes opções de presente, pois é um produto com todo o processo feito em Uberlândia. É algo da nossa terra. Os tecidos daqui têm sua característica, é como uma digital das tecedeiras. Também são artigos interessantes para o Natal como possibilidade de presentear alguém. Todos se impressionam com a beleza desses trabalhos. Vale a pena passar e conferir”, disse Mari Toledo, administradora do espaço.

 

O Centro de Fiação e Tecelagem de Uberlândia é aberto à visitação. Turistas do Brasil e do mundo que vêm à cidade já passaram para conhecer e adquirir a forma milenar de artesanato. E para perpetuar a arte, periodicamente são realizados cursos para quem deseja aprender o ofício de tecer. O curso acontece de segunda a sexta-feira, das 14h às 16h. A duração é de 45 dias.

 

O Centro de Fiação e Tecelagem fica na avenida Francisco Galassi, 85, bairro Patrimônio.

 

A loja de comercialização dos produtos funciona em horário comercial.

Para mais informações, basta entrar em contato com o local pelo telefone: 3214-9770.